O Ozempic é tradicionalmente indicado para tratamento da diabetes tipo 02, mas virou febre entre as pessoas que querem saber: ozempic emagrece?
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, liberou em janeiro a utilização da semaglutida para o tratamento da obesidade. O componente é o principal princípio ativo do Ozempic e já era usado no tratamento do Diabetes tipo 2, porém em menor dosagem.
A semaglutida é uma substância análoga ao GLP-1 (confira aqui a bula do medicamento). Esse hormônio é produzido pelo intestino durante a digestão. O Ozempic atua estimulando o organismo a fabricar esses hormônios antes da ingestão do alimento para que o nível de glicose do corpo aumente. Além disso, a substância diminui o apetite porque traz uma sensação de saciedade. Assim, a pessoa come menos e emagrece. O efeito trouxe fama imediata ao medicamento, que passou a ser conhecido como “caneta emagrecedora”.
As vendas do Ozempic movimentaram mais de 6 bilhões de dólares no mundo todo até agosto de 2022. No Brasil, o Ozempic foi o remédio mais vendido em 2021, quando a semaglutida ainda nem havia sido aprovada pela Anvisa para tratar a obesidade.
A obesidade é um problema de saúde pública
A obesidade é uma doença crônica que atinge milhões de pessoas no mundo todo. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a OMS, é um problema que tem crescido de maneira epidêmica em todas as faixas etárias e representa um grande desafio para a saúde pública.
De acordo com o Ministério da Saúde, atualmente mais da metade dos adultos apresenta excesso de peso (60,3%, o que representa 96 milhões de pessoas); e 6,7 milhões dos brasileiros são obesos.
A obesidade está relacionada ao aumento do risco para outras doenças como as do coração, diabetes, hipertensão arterial sistêmica, doença do fígado e diversos tipos de câncer. Além de problemas renais, asma, agravamento da covid, dores nas articulações, entre outras. Ou seja, pessoas obesas tem uma qualidade e uma expectativa de vida altamente reduzidas.
Ozempic é alternativa para tratar a obesidade
Diante desse cenário, fabricantes estão constantemente em busca de medicamentos que auxiliem no tratamento da obesidade e ofereçam ao paciente uma alternativa concreta para a redução de peso.
De acordo com a dra. Tassiane Alvarenga, integrante da Sociedade Brasileira de Endocrinologia (SBEM) e da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), a semaglutida de fato mudou a forma de tratar a obesidade.
Estudos mostram que a substância é segura para uso prolongado e pode ser utilizada de modo contínuo, desde que haja acompanhamento médico. “Além de proporcionar perda de peso, os pacientes que usam o medicamento apresentam melhora dos parâmetros metabólicos, como diminuição da pressão arterial, da glicemia e dos triglicérides. Além disso, a semaglutida ajuda a reduzir o risco de doenças cardiovasculares, sem causar efeitos colaterais psiquiátricos”, avalia a médica.
Os riscos do uso errado do Ozempic
Fernando Gerchman, diretor do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), diz que o Ozempic é uma inovação e uma ótima alternativa para o tratamento de diabetes e obesidade. No entanto, no desespero de atingir padrões irreais de beleza, muitas pessoas tem feito um uso indiscriminado do produto. “A busca pelo corpo perfeito ainda existe, e hoje é impactada pelas redes sociais com receitas ‘milagrosas’, diversos tipos de dietas restritivas para emagrecer e até mesmo o uso de alternativas como a semaglutida”, afirma o médico.
O grande risco é a pessoa se auto medicar sem a orientação de profissionais e sem realizar exames antes do início do tratamento. “Sabemos que até 2,4 mg a semaglutida oferece segurança e não tem riscos cardiovasculares, embora a medicação esteja associada a alguns efeitos colaterais, como náusea, refluxo, vômito, constipação e a possibilidade de causar pedra na vesícula. Mas a substância foi aprovada nesta dose, somente”, reforça o endocrinologista.
Além disso, é importante ressaltar que o Ozempic é contra indicado para tratamento da diabete tipo 1. E, antes de utilizá-lo, o paciente precisa saber se é alérgico à semaglutida ou a outras substâncias contidas na fórmula.
Rosto de Ozempic e outros efeitos colaterais
Os efeitos colaterais mais comuns do Ozempic são sintomas gástricos, como diarreia, náuseas e vômitos, constipação, refluxo, gases e sensação de saciedade. Esses sintomas tendem a passar com o uso. No entanto, quem utiliza a medicação sem orientação pode exagerar na dose e ter efeitos desagradáveis.
Logo após a liberação da Anvisa, muitos pacientes relataram flacidez no rosto, por exemplo. O efeito logo ficou conhecido como “rosto de Ozempic”. O dermatologista Otávio Macedo explica que, uma vez que o paciente diminui a ingestão de alimentos, o metabolismo consome o que há disponível para gerar energia. Nesse processo, queima-se não só gordura, mas também músculos e massa magra, o que provoca a perda de colágeno. Assim, o efeito se deve não especificamente ao remédio, mas à perda de peso rápida. “Ao emagrecer, perde-se gordura, que é o que queremos. Mas, em geral, perde-se também a massa magra, tanto do corpo quanto da face, o que leva à flacidez”, esclarece o dr. Macedo.
O perigo do efeito rebote
Para além das questões estéticas, o uso incorreto do Ozempic pode causar efeitos mais sérios como a fraqueza e a desidratação. Por isso os especialistas reforçam a necessidade de acompanhamento médico durante todo o tratamento.
Outra questão importante é o chamado “efeito rebote” ou “efeito sanfona”. Isso acontece quando o paciente retoma os antigos e maus hábitos assim que para de tomar o medicamento. O resultado? Recupera boa parte do peso perdido. “Não existe uma caneta mágica que conserte um estilo de vida ruim. A pessoa que emagreceu só com o Ozempic, sem acompanhamento médico e nutricional, pode voltar a engordar”, explica a dra. Tassiane. Ou seja, por si só, o Ozempic não resolve a obesidade. Para a especialista, o emagrecimento seguro, efetivo e consistente é resultado de um tratamento multidisciplinar e a longo prazo. Os pacientes devem associar o uso da medicação a uma mudança no estilo de vida, praticando atividade física e adotando uma dieta equilibrada.